quarta-feira, 20 de abril de 2011

FALANDO DE RADARES, PULGAS E UMBIGOS


     Soube, através da imprensa, da tentativa de proibição do uso de controladores de velocidade nas vias de Santa Rosa. A democracia cria espaços de debate na construção do interesse público de uma forma nunca vista, até permitindo esta singela opinião que busca colaborar com o debate.
     Em Santa Rosa no ano de 2010 houve 04 vítimas em local de acidente; no 1º quadrimestre de 2011, já ocorreram 03 acidentes com vítima; Em 2010, foram 272 acidentes com lesões. Sem falar na percepção de insegurança diante da alta velocidade, embriaguez, ultrapassagens pela direita e uso de celular na direção de veículo.
     Especialistas afirmam que a redução da violência no trânsito ocorre pela  ação conjunta e permanente entre os setores envolvidos no processo de planejamento,  gestão e humanização do trânsito e das áreas envolvidas na mobilidade urbana: Educação, Fiscalização e Engenharia. Porém, o ator mais importante é o ser humano, detentor do livre arbítrio e senhor de suas escolhas.
     A Brigada Militar atua diretamente na fiscalização de trânsito agindo de forma preventiva junto à comunidade com palestras e campanhas de educação ou reprimindo de forma imediata as ofensas à legislação. Na cidade são mais de 40 pontos críticos que exigem a presença constante da Brigada Militar, destacando-se as escolas.  Só em Santa Rosa estamos presentes em média em 2000 eventos ao ano entre ocorrências e ações de presença, socorrendo, mediando, prendendo.
    Para alcançar parte da sua missão a Corporação trabalha na fiscalização das vias urbanas. Diante da proposta de limitação do dever de fiscalização da Brigada Militar, vedando-se o emprego de meio eletrônico (radar estático) que busca provar que o condutor não obedeceu à sinalização, destaco que é, no mínimo, de se questionar se não estamos premiando o infrator que, por sua escolha, desconsiderou a limitação de velocidade posta na via. Percebam que somente é multado aquele condutor que assume o risco de circular acima da velocidade permitida, melhor para ele, e para nós, que foi um radar que ele encontrou pela frente e não uma criança, melhor que ele receba uma multa,  levando-o à reflexão sobre sua conduta, e não uma citação como autor em um processo de morte, lesão ou dano.
     É preocupante, o fato de em nenhum momento se levantar críticas a quem não obedece à legislação, mas sim contra quem fiscaliza. Busca limitar-se a ação fiscalizadora porque o infrator se sente “incomodado”. Uma lógica semelhante, perdoem-me a comparação, a uma antiga estratégia usada para matar pulgas em cães: mata o cão. A argumentação de que se está diante da ânsia arrecadadora ou de que o aparelho está escondido, revela a profunda incapacidade do condutor em se submeter à limitação de velocidade claramente exposta na via, pois somente obedece quando consegue perceber a presença da autoridade ou do aparelho. Mais, paga quem não respeita a sinalização e se houve urgência jutificável no deslocamento é garantido recurso da autuação sofrida.  O radar estático (aquele que pode ser colocado em diversos pontos da via) cria no condutor a sensação de certeza de fiscalização e incerteza do ponto em que será fiscalizado, isto causa um grande incômodo. Em Santa Rosa, existem mais de 36 mil veículos registrados, diariamente uma média de 18 veículos são flagrados acima da velocidade, o que nos leva perceber que 0,05% desta frota acaba por ser autuado por não respeitar a sinalização. 
     No Canadá as políticas públicas contra violência são debatidas entre agentes políticos, os técnicos, as universidades  e comunidade (que desenvolveu um sentimento cívico de alto nível e ocupa papel preponderante na tomada de decisão deste Agente Político). Esta maturidade democrática é identificada pelo pensar no bem estar da coletividade antes do interesse pessoal. Este estágio poderia ser exercitado neste momento, como queremos diminuir a violência no trânsito? Eliminando os pilares como a Fiscalização, Educação e Engenharia?  
     Falei de radares e pulgas, falta o umbigo. Diz Fernando Pedrosa, especialista em trânsito, sobre o controle eletrônico de velocidade ( www.estradas.com.br) “ A lição que precisamos definitivamente aprender é de que a redução dos índices de acidentes está unicamente na mão de cada um de nós, cidadãos”. Olhem para o próprio umbigo, afirma o especialista.    Pergunto, alcançamos o senso de responsabilidade coletiva? Enquanto buscarmos no outro a culpa pela violência no trânsito creio que não. Claro, menos aqueles que são modelos perfeitos de correção e dispensam a fiscalização. 
     Nossa Corporação tem uma larga faixa de preocupações, a maior delas é a garantia da vida. Pode o cidadão questionar: A Brigada não deveria estar prendendo bandido ao invés de se preocupar com um radar?  Caro cidadão, estamos falando em violência no trânsito. No Rio Grande do Sul, em 2010, morreram 1600 pessoas vítimas de homicídio, próximo disto estão as mortes em acidentes de trânsito, pois 1400 pessoas perderam a vida, sendo 41% destes acidentes em vias municipais. Não estamos falando de bandidos, pois quem mata no trânsito é o cidadão de bem.

SÉRGIO FLORES DE CAMPOS
TENENTE CORONEL-COMANDANTE DO 4ª BATALHÃO DE POLÍCIA DE ÁREA DE FRONTEIRA.

2 comentários:

  1. Excelente texto; nos leva a refletir sobre os verdadeiros valores defendidos pelo nosso legislativo. Os valores humanos estão invertidos e somos nós que podemos mudar isso. Como Voltaire disse: "Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas", por isso pessoal vamos parar e refletir quem é o real vilão da fiscalizaçao eletrônica; se são os policiais que buscam na legalidade o cumprimento da lei que visa a segurança de todos, ou os "incomodados" que nada mais são do que condutores imprudentes, causadores dos acidentes fatais de transito que pesam tanto na nossa sociedade tanto no âmbito emocional quanto financeiro. Nao custa nada refletir e buscarmos os nossos direitos como cidadãos que queremos paz no trânsito

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  2. Acontece que quando os 'grandes' da sociedade são os fiscalizados as coisas mudam..É isso que acontece, mas a lei e a fiscalização são para todos e todos devem cumpri-lá.

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